HISTÓRIA
DA IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA
Os cristãos evangélicos consideram que a sua história começa
na eternidade com Deus Pai, Filho e Espírito Santo e, depois do curso do tempo,
retoma esta mesma eternidade, porque a esperança futura de “novos céus e
nova terra em que habita a justiça” perpassa todo o cristianismo bíblico. A
Igreja de Jesus Cristo será reunida a Ele por toda a eternidade porque faz
parte de Cristo como Seu corpo, do qual Ele é a cabeça. É no seio da Trindade
que no princípio o homem é criado à imagem e semelhança do Criador. O homem
e a mulher têm os traços de Deus. Foram criados para viverem na intimidade do
Senhor do Universo.
Ou somos produto da matéria e da energia segundo o acaso e o
acidente, e temos neles a divindade suprema que produziu tudo o que conhecemos e
o que não conhecemos no infinitamente grande do universo e no infinitamente
pequeno dos elementos do átmo; ou somos criação de um Deus pessoal que a Si
mesmo se deu a conhecer na pessoa de Jesus Cristo. Segundo as evidências disponíveis
e em fé assumimos de espírito, alma e corpo inteiros a segunda opção e não
consideramos sequer a primeira uma alternativa válida. Há muita coisa que
ainda não sabemos, existem muitas perguntas em aberto; mas sabemos o suficiente
para acreditar em Jesus Cristo e, segundo o Seu ensino, em toda a Bíblia, como
Palavra de Deus.
Como cristãos evangélicos consideramos a Bíblia digna de todo o crédito,
em cada um dos testamentos, na sua vertente histórica; para lá do facto
essencial de ser o nosso fundamento único de fé, de doutrina e de prática.
Para nós a Bíblia é inspirada, não ditada, por Deus e inerrante em todo o
seu conteúdo. Palavra de Deus nas palavras dos homens. Temos uma posição
claramente fundamentalista, embora esta posição não possa nem deva ser de
modo algum confundida com qualquer tipo de intolerância e muito menos de
terrorismo. Respeitamos todas as confissões religiosas mas consideramos que
todas elas são apenas a expressão humana da busca de Deus, enquanto na Bíblia
temos a revelação do próprio Deus que em carne e osso se manifestou entre nós
e no qual conhecemos Deus de modo pessoal, sendo que através d’Ele recebemos
a presença do Espírito Santo em nós tornando-nos templos nos quais Ele
habita. Como revelação de Deus a Bíblia também nos dá uma panorâmica e análise
da busca do homem por Deus ao longo dos tempos que é, em si, tantas vezes,
resultado da negação do verdadeiro e genuíno ser divino. Porque o homem
recusa o Deus verdadeiro inventa para si ídolos que mais não são do que a
deificação da criação e nela de si mesmo. Na Bíblia Deus não é confundido
com a criação nem um ser longínquo, distante e indiferente para com a
humanidade que criou. No texto sagrado da Bíblia Deus é pessoal, existente em
três pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo.
O Criador de todas as coisas não foi apanhado de surpresa com a desobediência
do homem. Desde a eternidade o plano de redenção do homem estava determinado e
delineado. No Jardim do Éden Deus revelou o proto-evangelho de que da semente
da mulher haveria de nascer Aquele que feriria a cabeça da serpente.
A História da salvação contida no Velho Testamento é também a História
da Igreja Cristã Evangélica. Deus escolheu em Abraão um povo do qual haveria
de nascer o Salvador. No patriarca, segundo o decreto divino, seriam abençoadas
todas as nações da Terra. A Igreja de Jesus Cristo é constituída por homens
e mulheres de todas as nações, de todos os povos, de todas as línguas. Como
hoje se diz ela é multicultural, mas na sua diversidade encontramos a
singularidade de ser chamado pelo nome do Altíssimo, o nome que é sobre todo o
nome.
Desde a Mesopotâmia, passando pelo Egipto, e atravessando os grandes impérios
Babilónico, Persa, Medo-Persa, Grego e Romano, chegamos à Palestina de há
dois mil anos atrás, quando os anjos anunciaram o nascimento de Jesus Cristo.
Ele é o fundador e o edificador da Igreja. É sobre a pedra que é Ele mesmo
que a Sua Igreja, que é o Seu corpo, está sendo construída. Segundo o Seu
decreto, as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Jesus Cristo é o
cerne da Bíblia e o foco da História. Para Ele toda a História aponta e
n’Ele se concentra toda a expectativa histórica da Bíblia.
Jesus Cristo é Deus entre nós. Deus invadiu a História e habitou
neste planeta como criatura. O Criador assumiu a forma da criação e viveu
entre ela sentindo todo o peso da sua queda e dando a conhecer todo o seu
esplendor em obediência e dependência do Pai, na unção e no poder do Espírito
Santo. Este é um mistério singular. Esta é a substância do evangelho. O próprio
Deus que na Sua essência estabelece o bem e o mal, o certo e o errado, a
verdade e a mentira, a vida e a morte, a santidade e o pecado; que determinou as
consequêncais da queda; veio como homem, vivendo como humano, obedecendo em
tudo até à morte e morte de cruz à vontade do Pai e aí satisfez a justiça
de Deus para que o homem fosse perdoado. Na cruz se beijaram o amor e a justiça
de forma absoluta. Todo o amor de Deus e toda a justiça de Deus estão reunidas
e expressas na cruz de Jesus Cristo.
Jesus Cristo, o Verbo, o Logos, o Filho de Deus encarnou, viveu entre os
homens, morreu, ressuscitou, ascendeu aos céus e prometeu que voltaria uma
segunda vez para encerrar definitivamente esta era e dar início a “novos céus
e nova terra em que habitará a justiça para sempre”. A missão da Sua Igreja
disseminada e infiltrada em todo o mundo, é tornar conhecido este plano,
anunciar as boas novas do evangelho “que é o poder de Deus para salvação de
todo aquele que crê”, admoestar os homens a reconciliarem-se com Deus e a
viver em obediência aos mandamentos que o Seu edificador lhe determinou. A exigência
de vida é a perfeição de mãos dadas com a graça que é o favor de Deus que
nos aceita tal e qual nós somos, para que por Jesus Cristo nos tornemos como
Ele é em nosso carácter.
A Igreja de Jesus Cristo é católica e apostólica, mas não é romana,
bizantina, greja, ocidental, oriental, americana ou africana. Na diversidade própria
de cada cultura há uma unidade na Palavra e no Espírito.
A Igreja de Jesus surgiu no meio de uma profunda oposição e perseguição,
sem nenhuma conotação com o poder religioso e político. A Igreja cresceu e
estendeu-se segundo o mandamento da Grande Comissão entregue pelo Salvador. O
poder do Espírito Santo vence toda e qualquer oposição e uma a uma vão
caindo todas as barreiras e obstáculos ao progresso do Evangelho. Levantam-se
dificuldades internas que procuram minar a pureza da doutrina principalmente no
que diz respeito à natureza triúna de Deus e da identidade divina de Jesus
Cristo. Segundo a supervisão do Espírito Santo a verdade por Ele revelada na Bíblia
prevalece contra todos os ataques.
A constantinização da Igreja tornando-a refém do poder político e
mais tarde procurando controlar o poder político e viver na dependência das
suas benesses económicas, acaba por subverter a sua essência. Em vez das
marcas da humildade e do serviço, passamos a encontrar a sobranceria, a opulência,
a corrupção, a sede do poder, a prepotência e a violência. Em vez de uma
genuína e autêntica conversão do coração a Jesus, o cristianismo torna-se
nominal, cultural, mera referência sociológica. Em vez do novo nascimento em
que pelo poder do Espírito se é transformado numa nova criação, em filho de
Deus, passamos a ter uma adesão a uma organização de onde se pode obter
vantagens económico-sociais, ou onde se escapa ao ostracismo senão mesmo a
discriminação social.
A Idade Média é marcada pelo obscurantismo em que a própria Palavra de
Deus é vedada à leitura do povo e até dos líderes, em que o culto se
transforma em ritos mecânicos dos quais a população é mero assistente porque
nem sequer entende a língua em que é realizado. Introduzem-se doutrinas
humanas que não têm fundamento nas Escrituras. Promove-se o sincretismo com as
religiosidades e espiritualidades populares pagãs.
Em todo o tempo há um remanescente que não se deixa aprisionar pelas
heresias e pelos desvios da são doutrina bíblica. Vários são os percursores
de uma reforma que se tornava urgente como foi o caso de John Wycliff (c.
1324-1384), de João Huss (1369-1415) e de Jerónimo Savonarola (1452-1498).
Muitos deles foram silenciados pela força e enfrentaram a morte, até que Deus
usa Martinho Lutero para que algumas das verdades evangélicas essenciais sejam
afirmadas publicamente e produzam uma verdadeira revolução social, cultural,
política e, acima de tudo e em primeiro lugar, espiritual. Só a Escritura, só
a Graça, só a Fé – eis o lema da Reforma protestante ao qual se pode juntar
ainda a convicção de uma Igreja sempre em reforma, ou seja, sempre na procura
da verdade bíblica. Esta última tendência virá a originar novas reformas
dentro da própria reforma, como é o caso da reforma radical que vem a pugnar
pela separação da Igreja do Estado; pela conversão genuína identificada pelo
baptismo por imersão em idade adulta para a pertença e integração na Igreja
de Jesus, sem qualquer forma de coacção ou de nominalismo produzido pelo
baptismo infantil; pelo pacifismo e recusa de quaisquer formas de guerras político-religiosas.
Esta reforma acaba por experimentar uma forte oposição dos grupos reformados
que ainda mantiveram vínculos com doutrinas e práticas existentes no
catolicismo romano particularmente no que diz respeito à relação de dependência
do Estado.
Recorremos a uma excelente obra sobre a História da Teologia Cristã
publicada pela Editora Vida, da autoria de Roger Olson:
“O
conjunto total dos reformadores protestantes e de seus seguidores no século XVI
pode ser dividido em duas categorias principais: a Reforma magisterial e a
Reforma radical. Radical significa,
simplesmente, ‘voltar às raízes’ e é lógico que todos os protestantes
pretendiam recuperar o verdadeiro evangelho do NT, livrando-o das partes da
tradição medieval que achassem que o restringiam e suprimiam. Entretanto, o
grupo divergente, de reformadores protestante, mais radical do que os demais,
foi classificado ‘Reforma radical’ ou simplesmente ‘protestantes
radicais’ por causa de suas características comuns’. (…) A Reforma
radical inclui todos os protestantes da Europa no século XVI que acreditavam na
separação entre a igreja e o estado, renunciavam à coerção nas questões da
crença religiosa, rejeitavam o baptismo infantil em favor do baptismo dos
crentes (também chamado baptismo no Espírito) e enfatizavam a experiência da
regeneração (‘nascer de novo’) pelo Espírito de Deus mais do que a
justificação forense. Eles evitavam magistrados cristãos e, em geral,
procuravam viver o mais longe possível da sociedade. Alguns fundaram
comunidades cristãs. A maioria adoptou o pacifismo cristão e um modo de vida
singelo. Alguns rejeitavam o treinamento teológico formal e os clérigos
profissionais. Todos enfatizavam o viver cristão prático mais do que os credos
e as confissões de fé doutrinária.” (OLSON,
Roger. História da Teologia Cristã,
Editora Vida, pp. 425, 426)
A designação “protestante”
surgiu em 1529, após a segunda dieta de Espira, onde os príncipes luteranos do
Sacro Império haviam demonstrado o seu “protesto” contra as decisões
imperiais que pretendiam restringir a liberdade religiosa do movimento
reformista. Por sua vez o termo evangélico nasce entre os protestantes na formação
da Liga Evangélica de Esmalcada – criada para defender os interesses dos
principados protestantes contra o movimento católico contra-reformista liderado
por Carlos V. Esta terminologia é menos agressiva do ponto de vista sociológico
que entre nós sempre viu o protestantismo de soslaio, no entanto verifica-se um
grande oportunismo por parte de determinados grupos que se servem dele e da sua
abrangência de diversidade sem respeitarem os seus traços essenciais bíblicos
trazidos de volta pela reforma e pelos movimentos de renovação que os
desenvolveram e aprofundaram.
Os grandes lemas da Reforma que de forma brilhante sintetizam uma
parte essencial do cristianismo bíblico, do evangelho de Jesus Cristo, são : Sola
Gratia, Sola Fides e Sola Scriptura
(somente a graça, somente a fé, somente a Escritura), que condensam três
princípios segundo o qual a reconciliação e a relação do homem com Deus só
podem ser alcançados por meio do favor divino e nunca por nunca ser através
das obras, pela fé na obra expiatória realizada por Jesus Cristo segundo as
Escrituras, única regra de fé e prática. Um dos textos bíblicos que traduz
esta essência de forma contundente foi escrito pelo apóstolo
Desta forma uma das características essenciais do movimento reformado
protestante e evangélico é a Bíblia traduzida para as línguas vernáculas de
tal forma que o povo a possa ler, analisar, reflectir, interpretar e viver de
acordo com a iluminação do Espírito, procurando sempre a interpretação
dentro do próprio contexto bíblico, ou seja, a Bíblia a interpretar-se a si
própria. O livre exame e uma interpretação no seu contexto bíblico
considerando ainda o enquadramento histórico-cultural, sem deixar que este
comprometa o primeiro, sempre foi uma marca distintiva da Igreja cristã. Desde
o dia de Pentecostes o impulso do Espírito foi no sentido de que as maravilhas
de Deus fossem veiculadas em todas as línguas, para todos os povos em todas as
geografias num genuíno movimento intercultural e multicultural. A invenção da
imprensa por Gutemberg em 1456, acaba por ser, na providência divina e não por
mera casualidade histórica, um instrumento decisivo na disseminação do texto
sagrado. Hoje em dia a Bíblia está amplamente disponível através dos meios
mais modernos de comunicação, como é o digital.
O movimento espiritual saído da Reforma acaba por desenvolver-se segundo
grandes linhas de força das quais se destaca a separação da Igreja do Estado,
a filiação cristã ligada à experiência cristã assumida em consciência e
assumida publicamente no baptismo por imersão em idade adulta em vez de uma
confissão meramente nominal e cultural, uma atitude mais assumida da propagação
do evangelho tanto interna como externa através de agências missionárias, um
governo eclesial cada vez mais centrado na comunidade local, a santidade de vida
nos valores éticos e nos costumes em intimidade com Deus, o serviço dos mais
desfavorecidos, o despojamento da imagem exterior de opulência nos templos e
paramentos, uma liturgia cada vez menos formal e rígida para uma celebração
espontânea, uma fé não apenas racional mas também emocional e afectiva.
Assim na Inglaterra da Igreja Anglicana existem desdobramentos para os
puritanos, congregacionais, quacres, metodistas, anabaptistas e baptistas. Na
Alemanha do luteranismo para o pietismo, morávios e irmãos. Nos Estados Unidos
os pentecostais. Entre um calvinismo predeterminista radical e um arminianismo
do livre-arbítrio e da liberdade humana. Claro que estes esquemas não traduzem
a riqueza das dinâmicas muito mais intrincadas, sempre em busca de uma
identidade cada vez mais próxima da Igreja do primeiro século também
designada de primitiva, ou seja a Igreja apostólica que Jesus funda, emana do
dia de Pentecostes e continua a ser edificada segundo a Bíblia.
O mover do Espírito Santo continua a produzir os seus resultados na
Igreja de Jesus de modo a arrebatá-la do conformismo, da estagnação, da
mornidão espiritual, da subserviência e dependência do poder do Estado político-social,
e numa busca intensa da santidade e da proclamação do Evangelho como poder de
Deus para salvação e transformação de todo o que crê. É assim que surgem
despertamentos espirituais durante os séculos dezoito, dezanove e vinte que estão
na origem das principais denominações protestantes e evangélicos e que são
uma acção do Espírito contrária à tendência da fossilização da
espiritualidade cristã nominal. É
nesta dinâmica que surgem pessoas como John Wesley (1703-1791), Jonathan
Edwards (1703-1758),
George
Whitefield (1714-1770), Charles Spurgeon (1834-1892),
Dwight Moody (1837-1899),
Charles Finney (1792-1875),
Se a Igreja de Jesus Cristo
está a par do seu tempo pode-se também que algumas vezes o antecipa. Se a
sociedade coloca desafios à Igreja, a Igreja não tem deixado de interpelar o
seu tempo com os desafios sempre presentes da pessoa de Jesus Cristo e do Seu
evangelho. É isto que vemos na modernidade e na pós-modernidade mais próximos
de nós com a Reforma protestante e com o avivamento pentecostal. Os perigos
continuam a espretar a Igreja na sua identificação com Jesus Cristo e a Igreja
do primeiro século. O desafio continua a ser permanente de respeitar a Bíblia
como Palavra de Deus. O liberalismo teológico que pretende desmistificar a Bíblia
considerando mito tudoo que se prende com a manifestação do sobrenatural,
contrariado pelo fundamentalismo que defende a inerrância bíblica, o essencial
do relato bíblico da criação e nela da criação especial do homem à imagem
e semelhança de Deus, da queda do homem pela desobediência e rebeldia, do
pecado original que corrompeu a natureza humana, do nascimento virginal de Jesus
Cristo, da Sua morte substitutiva e expiatória sem a qual não é possível ser
salvo, a ressurreição corpórea, a ascenção física e visível aos céus, a
realidade dos milagres na soberania divina e na fé do crente, a segunda vinda
de Cristo, no juízo final, no céu e no inferno. Estes dois grupos estão
organicamente identificados no Conselho Mundial das Igrejas ecuménico e na
Aliança Evangélica Mundial e no diálogo inter-religioso.
Em Portugal podemos considerar João Ferreira de Almeida (1628-1691)
como o reformador português, em
virtude da sua tradução da Bíblia que é, sem sombra de dúvida, o maior de
todos os best-sellers em termos de venda e, certamente, de leitura e influência
espiritual.
As primeiras comunidades protestantes são de emigrantes do norte da
Europa, principalmente ingleses e os missionários que rumam a Portugal em
sucessivos momentos vêm do norte da Europa (Escócia, Inglaterra, Suécia, Suíça
e Holanda). Num momento subsequente é interessante a influência que vem do
Brasil particularmente através de emigrantes portugueses que acabam por
retornar, certamente devido à maior abertura deste aos movimentos reformados e
à ausência da repressão da contra-reforma e da inquisição católica romana.
Sobre o começo das denominações evangélicas em Portugal citamos a
obra de Herlânder Felizardo História dos
Baptistas em Portugal, na qual se lê:
A primeira igreja evangélica em solo português foi a Igreja Reformada
Alemã, fundada em Lisboa em 1641. Seguiram-se a Igreja Luterana Alemã,
substituída pela Igreja Reformada Alemã em 1761, e a Igreja Anglicana de língua
inglesa em 1871. Denominacionalmente temos a Igreja Episcopal Lusitana em 1868,
a Presbiteriana em 1870, a Metodista em 1871, os Irmãos em 1877 e a
Congregacional em 1880. A primeira igreja Baptista só viria a ser organizada em
1888.
Referimos e citamos o livro “Os Evangélicos em Portugal da autoria do
missionário
Em
1641 uma igreja reformada holandesa era estabelecida em Lisboa e em 1642 o rei
D. João IV de Portugal assinou um tratado com Carlos I de Inglaterra através
do qual os súbditos britânicos residentes em Portugal tinham garantida a sua
liberdade de consciência.
Um
notável reformador português, que recebeu a sua educação teológica na
Holanda e veio a ser o primeiro português a receber a ordenação para ministro
do Evangelho, de seu nome João Ferreira de Almeida (1628-1691) deu o seu
contributo máximo na preparação da primeira tradução do Novo Testamento
para a língua portuguesa, a partir do original grego. Em
Almeida
morreu antes de completar a tradução do Velho Testamento do original hebraico.
No entanto, ainda conseguiu completar a tradução de Génesis a Ezequiel
enquanto estava
(ERICSON
A
difusão de toda a série de reformas ao longo do século dezoito não veio
alterar de modo sensível a situação religiosa
(ERICSON, Gerald Carl. Os
Evangélicos
O
século dezanove em Portugal correspondeu a um período de iniciativa missionária,
aliás como em muitas outras partes do mundo. No entanto, Portugal teve um começo
muito mais lento do que a maior parte dos outros países, sobretudo por causa do
ambiente de repressão religiosa herdada do passado, cujos efeitos
obscurantistas perpetuavam-se ainda naquela altura.
A
Inquisição foi oficialmente extinta em Portugal em 1821. Nove anos mais tarde
Almeida Garrett publicou “Portugal na Balança da Europa” em que ele
claramente referiu a perda grande que Portugal sofreu em não ter um maior
contacto com as influências liberalizantes da Reforma.
As
forças liberais por volta do ano de 1830 chegaram mesmo a expulsar as ordens
religiosas católicas romanas e confiscaram-lhes os bens. No entanto, o país
ainda não estava pronto para receber uma influência evangélica. O único
trabalho digno de menção na primeira terça parte do século dezanove foi a
fundação da agência da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1809).
Alguns agentes da Sociedade Bíblica percorreram Portugal, deixando quantidades
apreciáveis de Bíblias em áreas mais ou menos afastadas da capital, como por
exemplo o Alentejo. Não houve o estabelecimento de igrejas.
(ERICSON, Gerald Carl. Os
Evangélicos
Damos a palavra ao Dr. David Valente sobre o percursor do protestantismo
português na Ilha da Madeira:
O
protestantismo chega a Portugal com Robert Reid Kalley, médico escocês, que
aporta na Madeira em Outubro de 1838. Na Madeira funda escolas primárias com o
fito de ensinar a ler a Bíblia, que aliás era o livro de texto desses
estabelecimentos, cria um pequeno hospital, prega o Evangelho, traduz e escreve
hinos, organiza a primeira comunidade presbiteriana portuguesa e ordena presbíteros
e diáconos.
Em
1843 iniciam-se as perseguições com o encerramento das escolas, com proibição
de que Kalley falasse sobre assuntos de religião, com a prisão de Kalley por
cinco meses e com a intimação, perseguição e prisão dos calvinistas
madeirenses, uma das quais, Maria Joaquina Alves, foi condenada à morte por
apostasia, heresia e blasfémia. Tal sentença foi revogada pelo Tribunal da
Relação de Lisboa.
As perseguições atingem o seu auge em 9 Agosto de 1846, data em que as
forças católicas romanas estavam determinadas a erradicar de vez o calvinismo
da Madeira. Nesse dia, sob a orientação do cónego Teles, a casa de Kalley é
assaltada, a sua biblioteca queimada e os crentes madeirenses procurados em suas
casas, espancados, perseguidos e presos. Kalley e mais de um milhar de
protestantes logra escapar a esta perseguição e fugir da ilha da Madeira em
barcos ingleses que se dirigiam para Trindade (no “William” fugiram 200
pessoas, no “Lord Seaton” 500, e muitas noutros barcos em Agosto, Setembro e
Outubro de 1846). Ainda existem na ilha descendentes dos calvinistas de Kalley,
como é o caso do irmão Jacinto Cláudio Gouveia, presidente da assembleia do
Conselho Presbiteriano da Região da Madeira.
Depois de
O Dr.
“(...)
O trabalho do Dr.
Sobre o metodismo colhemos os seguintes dados a respeito do seu início:
A origem da Igreja Metodista em Portugal
resultou do testemunho de dois leigos ingleses, Thomas Chegwin, em 1854, e James
Cassels, dez anos mais tarde. Ambos foram responsáveis pela iniciação de
pequenos grupos no estudo bíblico e na oração, adoptando o modelo criado por
João Wesley no seu sistema de classes.
Em 1868 foi construída a primeira capela Metodista
A génese dos baptistas em Portugal está ligada à famíia Jones de
naconalidade inglesa:
A presença de evangélicos na cultura, na assistência social, na educação,
nos negócios, na política, enfim na vida social é, desde as suas origens,
muito marcante e notória. Nems empre tem sido registada e destacada como
deveria, faltam estudos publicados sobre a matéria, mas isso não anula o facto
em si.
As Assembleias de Deus em Portugal decorrentes do Avivamento Pentecostal
na Rua Azuza nos Estados Unidos no início do século XX, surgem pela
instrumentalidade de portugueses emigrados no Brasil, onde têm contacto com o
despertamento espiritual que então já produzia o seu impacto na América do
Sul e na Europa. Da revista Novas de Alegria reproduzimos uma breve síntese:
O Movimento Pentecostal
Português está ligado, no início, ao do Brasil nas pessoas dos missionários
[suecos] Daniel Berg e Gunnar Vingren. Entre os primeiros 18 crentes da primeira
Assembleia de Deus, na cidade de Belém do Pará, encontrava-se o português José
Plácido da Costa, que regressou à sua pátria, em 1913, para testificar de
Jesus.
Em 1921 outro português
é enviado do Brasil com sustento da Suécia. Trata-se do pastor José de Matos,
que percorre o nosso país de Norte a Sul estabelecendo contactos e fundando
igrejas no Algarve e nas Beiras.
Entretanto chega à
cidade do Porto o missionário Daniel Berg, o qual se junta ao irmão José Plácido
para estabelecerem as Assembleias de Deus no Norte de Portugal, cooperando com
eles o missionário Holger Bãckstrõm.
Em Lisboa, aonde o
Movimento havia posteriormente de tomar maiores proporções, a Obra foi
principiada no ano de 1932 pelo missionário sueco Jack Hardstedt, para o que
alugou uma velha capela católica, deixando a igreja 5 anos depois com 18
membros
Mais tarde os doutores
Bowkers, missionários ingleses, aceitaram o testemunho pentecostal e abriram
trabalho em várias terras. Os missionários Ernesto Newman e esposa chegaram da
Escandinávia para colaborarem também na Vinha do Mestre. O objectivo dos
missionários sempre foi abrir igrejas locais autónomas e livres de qualquer
influência estrangeira, estabelecendo um trabalho totalmente português, para o
qual Deus levantou obreiros aptos para o executarem. E assim a obra
desenvolveu-se por todo o País.
Tiveram grande influência
no sentido da unificação deste Movimento as convenções anuais, que começaram
em 1939, onde todos os pregadores se reúnem para tratar de assuntos vitais da
Obra do Senhor. As Escolas Bíblicas que se seguiram imediatamente têm
continuado a ser um viveiro para novos obreiros e cooperadores. Mais tarde
fundou-se um Instituto Bíblico donde têm saído Missionários, Evangelistas,
Pastores e outros colaboradores para a grande Seara.
A revista “NOVAS DE
ALEGRIA”, cujo primeiro número saiu em Novembro de 1942, tem contribuído de
forma bastante positiva para uma união entre as igrejas, as quais, sem alguma
autoridade suprema para as dirigir, vivem na comunhão do Salmo 133. O Movimento
possui o hinário “Cânticos de Alegria” com mais de 500 hinos. Além de
livros e periódicos, também edita e adquire cerca de um milhão de folhetos
anualmente para distribuição gratuita.
Onde a cooperação das
igrejas se mostra mais íntima é no que concerne à Missão interna e externa.
Evangelistas, na Metrópole, são auxiliados pelo Fundo Nacional da Missão, e têm
sido enviados missionários para os Açores, Madeira, Angola e S. Tomé, como
também para o longínquo Timor, e, ainda, para as colónias de Portugueses no
Estrangeiro, sustentados pela cooperação das igrejas locais, com o resultado
de milhares de almas para o Senhor. É também notória a obra social que, além
da assistência beneficente das igrejas locais, conta com duas Casas de Repouso
para pessoas idosas e um Orfanato. Por intermédio das Escolas Dominicais,
milhares de crianças são instruídas na Palavra de Deus. Outros departamentos
de correspondência são os do Programa Radiofónico, do Correio Áureo e da
Comissão de Distribuição de Literatura.
Pela rádio do
Continente e do Estado de Angola, a mensagem pentecostal faz-se ouvir
semanalmente por gente de variadíssimas raças. O Instituto de Correspondência
Internacional, com sede em Madrid, tem entre os seus alunos 26 000 portugueses.
Não obstante tudo o que há tem sido feito no nosso meio, cremos estar apenas
no início de uma Obra gigantesca que Deus quer realizar entre o povo português.
Resta informar que, em
1971, foram baptizados e agregados às igrejas locais mais de 700 novos crentes,
perfazendo um total de 7300 membros
Na página 10 do suplemento sobre a
Igreja Evangélica em Portugal, saído em O
Primeiro de Janeiro de
11/11/2006, declara o pastor Manuel Joana a certa altura da entrevista: “Estas
Assembleias nasceram de uma obra espontânea e simples e, ao longo dos anos,
foram crescendo e desenvolvendo-se. Têm mais de 150 obreiros com dedicação
exclusiva à obra [de Deus] e ainda algumas centenas de presbíteros, diáconos
e cooperadores que ajudam a Igreja nos quase 500 lugares de culto espalhados
pelo país. Toda esta organização e este número de elementos são necessários
para acompanhar e ajudar os cerca de 20 mil fiéis que, semanalmente, se dirigem
aos locais de culto e também os 60 a 70 mil simpatizantes que, levados por
familiares e amigos, frequentam as congregações.”
É
nesta família denominacional e a partir da Assembleia de Deus em Lisboa,
fundada no ano de 1932 pelo missionário sueco Jack Hardstedt, que surge a
Assembleia de Deus Pentecostal em Benfica, membro da Aliança Evangélica
Portuguesa com o número ..., desde o ano de ... e que se tornou autónoma com
estatutos próprios em 1999. A sua história desenvolve-se no capítulo
seguinte.
A
Aliança Evangélica Portuguesa, “uma associação que congrega e representa a
quase totalidade das igrejas evangélicas em Portugal, foi organizada em 1921
sob a liderança do seu primeiro presidente, Eduardo Moreira, muito embora o seu
estatuto só tivesse sido obtido em 1935”, conforme se lê numa brochura
editada pela mesma. Na mesma obra publicada no mandato do pastor Moisés Gomes
(1999-2001), se refere ainda que “a comunidade evangélica, com um número de
fiéis directamente envolvidos nas igrejas da ordem dos 250.000, exerce a sua
influência num universo de 500.000 pessoas, tem cerca de 1.500 locais de culto
espalhados por todo o Continente e Ilhas, possui cerca de 900 ministros de culto
e outros líderes, conta com cerca de 2.000 quadros superiores,
socio-profissionais e empresários, possui 12 escolas de ensino teológico,
conta com mais de 63 instituições de acção social, tem 132 turmas a
funcionar em 63 escolas públicas da disciplina de Educação Moral e Religiosa
Evangélica, tem dois programas televisivos, sendo um bi-semanal, no canal 2 da
Bibliografia
ERICSON, Gerald
Carl.Os Evangélicos Em Portugal. Núcleo. Queluz. 1984.
FELIZARDO, Herlânder
Felizardo. História dos Baptistas em Portugal. Cebapes. Lisboa. 1995.
OLSON,
TESTA, Michael
P. O Apóstolo da Madeira. Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal. Lisboa.
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